sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Perfil

Famesf e o pioneirismo de Hylânia Duarte


Texto: Tamires de Lima
Fotos: Tamires de Lima e Arquivo do DTCS
Núcleo de Comunicação do DTCS/UNEB Campus III









A placa dos formandos 2015.1 do curso de Engenharia Agronômica do Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS) da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em Juazeiro, está localizada próximo ao auditório principal de eventos da instituição e exibe fotos e nomes de vinte quatro estudantes.

Mulheres e homens dividem praticamente o mesmo percentual da lista, mas, ao se deparar com essa placa de formatura, ninguém imagina que há exatos cinquenta anos, em 1965, apenas uma mulher, a jovem Hylânia Duarte, integrava a turma de alunos que recebeu os primeiros diplomas do curso de Agronomia da região, quando o Departamento ainda era Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco (Famesf).

O baixo quantitativo de mulheres estudando na Famesf prosseguiu durante décadas e um dos motivos apontados por Hylânia Duarte hoje, aos 76 anos, é que o curso de Agronomia sempre foi considerado, por muitas pessoas, como uma área restrita ao público masculino. A ex-estudante da Famesf também relembra que na década de 60 não era tão comum as moças das cidades de Juazeiro e Petrolina ingressarem em cursos de nível superior.

“Terminado o ginásio, atual ensino fundamental II, você entrava no ensino clássico, que era um curso mais voltado para línguas, ou no científico, que era voltado para o vestibular, com disciplinas de física, química e matemática. E tínhamos também o curso pedagógico, o qual era o destino de todas as moças da época: formava no pedagógico, casava e assim encerrava a carreira artística”, conta Hylânia, em tom de brincadeira.

A paixão pela natureza, o campo, as plantas, e a terra foi o que levou a menina a prestar o vestibular para o curso de Agronomia da Famesf. Com a aprovação, ingressou em 1961, aos 22 anos, se tornando a primeira mulher a estudar nesta faculdade. “Nesse período, a minha mãe teve muito medo. Já o meu pai, achava um sucesso. Vibrava. Ele tinha o maior prazer em dizer que eu era agrônoma, que eu estudava”, anima-se ao lembrar, também vibrando junto à memória dos pais.

Com um tom de voz mais sério, a ex-aluna da Famesf constata que a sua entrada no curso de Agronomia foi responsável pelo rompimento de alguns paradigmas. “Eu acho que foi importante para a região, uma vez que a gente quebrou o tabu, não é? Mulher não podia fazer nada, não tinha liberdade, nem de pensamento e eu mostrei que a gente podia tanto quanto os homens. Abri as portas para as colegas mulheres, porque quando entra uma já facilita, já viu que deu certo. Tanto que na segunda turma, já ingressaram duas meninas. Na minha turma, éramos vinte e cinco alunos. Vinte quatro homens e eu”, relatou.

Hylânia e os seus colegas, que integravam a primeira turma da Famesf, assistiram às primeiras aulas no prédio da Sociedade Beneficente dos Artífices Juazeirenses, espaço onde fica atualmente o colégio Dr. Edson Ribeiro. Mas, ainda na década de 60, a faculdade foi transferida para o lugar onde se localizava o antigo Horto Florestal, hoje é o DTCS.

Sentada em uma das salas da faculdade, a mulher de cabelos loiros e óculos escuros fala do quanto a estrutura do lugar mudou desde o período em que começou a estudar Agronomia na instituição. “Aqui cresceu muito com relação à tecnologia. Nós não tínhamos laboratórios, então precisávamos sair da cidade justamente para algumas aulas práticas. A gente ia à Feira de Santana para ter uma aula de zootecnia, à região de Alagoinhas para ter aula de fruticultura e a Arco Verde, em Pernambuco, para ver a parte de tecnologia de alimentos”, conta.

A lembrança desse período também traz à memória de Hylânia os momentos em que ela passou na Faculdade desenvolvendo tarefas que não faziam parte da formação exigida pelo curso. “A partir do momento em que eu entrei na Famesf, participava de tudo. Eu era a secretária do diretório acadêmico e nós nos comunicávamos com a União Nacional dos Estudantes (UNE). Até hoje eu tenho o brochinho da UNE”, recorda saudosista.


A ex-aluna torna-se professora da antiga Famesf




Hylânia foi aluna da primeira turma da Famesf  e anos depois
 retornou à faculdade como professora do curso 


Após se formar na Faculdade de Agronomia do Submédio São Francisco (Famesf), Hylânia Duarte fez concurso para a Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária de Pernambuco, onde trabalhou como Engenheira Agrônoma a partir de 1973. Após cerca de oito anos, tornou-se chefe do Posto de Fruticultura, se dedicando à produção de mudas frutíferas e, logo depois, chefe regional do Departamento de Produção Vegetal, onde fez trabalhos com produção de sementes e mecanização agrícola.  

Os relatos de Hylânia sobre o período em que esteve no mercado de trabalho mostram que ela também foi pioneira na atuação como agrônomana região. “Fiquei como chefe regional da vigésima quarta residência, em Petrolina, que abrangia as regiões de Afrânio, Lagoa Grande e me parece que Orocó. Lá também não tinha outras mulheres trabalhando, era só eu. Isso foi por volta da década de 80. Foram uns nove anos como chefe regional e saí quando mudou o governo, mas continuei lá como agrônoma. Foi nessa época que eu ingressei na Famesf como docente e fiquei trabalhando vinte horas aqui e vinte horas lá”, comenta.

Hylânia Duarte retornou à Famesf como professora em março de 1983, ano em que a faculdade tornou-se sede do Campus III da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), após ter sido incorporada a Superintendência do Ensino Superior do Estado da Bahia (SESEB), em 1980. Mas só em 1997 a nomenclatura da faculdade seria modificada, tornando-se Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS).

Na década de 80, Hylânia já percebia o aumento no quantitativo de mulheres na instituição, tanto de professoras quanto de alunas. “Quando eu cheguei aqui para ensinar já tinha muitas professoras mulheres como Fátima Pontes e Conceição Padilha. Todas elas se formaram e ensinaram aqui. Também já tinha um número razoável de meninas estudando, com um percentual de mais ou menos 30% da turma e depois foi aumentando”, fala.

Na volta às salas de aula como professora da instituição, a prática exercida como Engenheira Agrônoma tornara-se para Hylânia uma das principais bases que passava aos alunos. “Na hora de plantar, os alunos diziam: Ah não! A gente já sabe! E aí, quando chegava a parte prática, diziam: Ah! É assim? Foi uma época muito boa. Eu sempre gostei muito”, lembra.

A famesfiana era responsável pelas disciplinas Agricultura Geral e Agricultura Especial, que depois passaram a se chamar Agricultura I e II. Após a reformulação da grade do curso de Agronomia, essas matérias ganharam o nome de suas respectivas culturas. “Uma disciplina trabalhava com feijão, milho e arroz e a outra com algodão, cana de açúcar e mandioca. Por sinal, os meninos saíam das minhas disciplinas e já iam para o estágio. Eles cursavam essas disciplinas quando já estavam perto de concluir o curso”, conta.

A professora aposentada, de aparência bem mais jovem do que realmente consta no registro de nascimento e mãos visualmente delicadas, surpreende ao contar algumas histórias de quando foi professora. “Comigo todo mundo trabalhava na enxada. Aí tinha um aluno que vinha todo arrumado, de sapato. E eu dizia: menino, você veio hoje digno do que eu tenho pra você. E ríamos. Agora quando ele me encontra é tanto beijo, tanto abraço. Ainda há um carinho muito grande deles comigo e meu com eles. Nunca tive nenhum problema”, conta transbordando entusiasmo.  


Hylânia Duarte foi professora da faculdade até o ano de 2009, quando então se aposentou. Hoje, com quase 80 anos, duas filhas e quatro netos, faz pilates e caminhada, mas não mais desenvolve atividades no campo. Entretanto, se você encontrá-la para falar sobre Agronomia ficará contagiado com o seu sorriso saudoso de menina, aquela que tanto como aluna quanto como docente viveu dois momentos importantes da história da Famesf.

52 de história do D.A.L.A

Ensino Público, Gratuito e de Qualidade: a luta dos estudantes da Famesf na concretização de um sonho

52 anos de histórias do Diretório Acadêmico Livre de Agronomia


Texto: Sheila Feitosa
Fotos: Sheila Feitosa e Arquivo Pessoal
Núcleo de Assessoria de Comunicação do DTCS/UNEB
                                                                                           ascom.dtcs3@uneb.br

Caracterizada por promover no Brasil um regime de repressão, censura e perseguição a Ditadura Militar deixou, nas décadas de 1960, 70 e 80 fortes marcas na política e na sociedade brasileira e foi responsável por alavancar uma mobilização dos estudantes que trouxeram para a população o debate sobre questões importantes como a reforma universitária e a luta contra a privatização do ensino superior no país.

Dois anos antes de toda essa efervescência política, em 1962, estudantes do interior do Vale do São Francisco lutavam por melhorias no ensino superior. Estes discentes da cidade de Juazeiro, no interior da Bahia, reivindicavam questões para a melhoria da estrutura física e do ensino da Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco (FAMESF) atual Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS).

Desse entusiasmo surgiu, nesse mesmo ano, o Diretório Acadêmico Manoel Novaes (DA), composto por dez alunos da primeira turma do curso de Agronomia. O DA era responsável por representar os discentes na instituição e nos movimentos estudantis. As primeiras atividades do diretório estão registradas na primeira ata de reuniões, guardada até hoje na sala do Diretório Acadêmico. A ata de capa marrom, folhas amareladas e com leves avarias provocadas pelo tempo, conta com assinaturas da primeira diretoria que teve início com o seguinte escrito:

 “Aos dez dias do mês de abril de mil novecentos e sessenta e dois, às vinte horas, no edifício sede da Sociedade Beneficente dos Artífices Juazeirenses, primeiro andar, na sala em que se ministrou as aulas teóricas da nossa Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco (FAMESF), realizou-se a primeira  sessão ordinária para assembleia geral  para eleições do primeiro mandatário do Diretório Acadêmico  Manoel Novaes, órgão representativo da instituição de ensino superior”.

Hylânia Duarte, primeira mulher integrar a diretoria do DA

A ex-aluna da Famesf, Hylânia Duarte, que em 1983 integrou o quadro docente do curso de Agronomia, lembrou o período em que atuou como secretária no Diretório. Ela relatou que a primeira eleição foi realizada de forma direta e o presidente escolhido foi o estudante Nelson Cerqueira Muniz. Nessa época, as reuniões eram realizadas no Clube Sociedade Artífices Juazeirense, local onde funcionava a Escola de Agronomia desde 1960.

PRIMEIRA CONQUISTA- Em 31 de março de 1964 teve início o Regime Militar no país que alavancou muitos protestos e reivindicações contrárias as ações dos militares. A ditadura não intimidou os estudantes da Famesf que, mesmo sob pressão, se reuniam para discutir possíveis mudanças na faculdade.

Em um desses encontros, o presidente do DA, Jeremias Cauby, e um professor da Escola de Agronomia foram presos, acusados de subversão. “Isso ocorreu depois que um olheiro do governo militar fotografou o encontro e enviou as fotos para a capital Salvador. Logo após, os dois foram presos e levados para uma fazenda, próximo à cidade de Terra Nova, em Pernambuco”, relatou Hylânia

A faculdade ainda estava nascendo e haviam alguns problemas que aos poucos foram sendo superados. De acordo com Hylânia, uma das principais pautas de reivindicações do Diretório era a aquisição de um veículo que os transportassem para outras cidades, possibilitando a realização de aulas práticas fora de Juazeiro. E as reivindicações deram frutos. Em 1965 foi feita a aquisição do primeiro ônibus da faculdade, batizado pelos alunos de "O Bororó", que levou os estudantes da primeira turma a uma viagem à cidade de Montevidéu, no Uruguai.

ENSINO PÚBLICO, GRATUITO E DE QUALIDADE - A ação estudantil no país era representada por algumas organizações como: os Diretórios Centrais Estudantis (DCEs), as Uniões Estaduais de Estudantes (UEEs) e a União Nacional dos Estudantes (UNE), que foram reprimidas pelos militares por protagonizarem protestos contra a privatização do ensino superior no Brasil e a favor da democracia. Em juazeiro, o movimento estudantil, liderado pelos discentes da Famesf, segundo relatos dos ex-alunos da época, parecia não temer  as ações do regime militar e permaneceram lutando por melhorias na Instituição. 

Na faculdade, o Diretório Acadêmico Manoel Novaes estava passando por algumas mudanças. As primeiras foram na nomenclatura e na forma como eram eleitos os presidentes. O ex- aluno da turma de 1979 e ex-presidente do DA, Antônio Fernando Dantas, contou que a diretoria, até o ano anterior, era escolhida de forma indireta. Depois foram realizadas eleições diretas e passou a se chamar Diretório Acadêmico Livre de Agronomia (D.A.L.A).

Os estudantes fizeram uma série de reivindicações em prol da melhoria da Instituição
O ex presidente do DA Antônio Fernando Dantas com a segunda edição do jornal Tiririca
 . Segundo Fernando, algumas delas foram: a criação de um restaurante universitário; a construção do prédio da residência estudantil; concurso público para os professores; livros novos para a antiga biblioteca, que ficava nas salas em baixo do prédio do Auditório Principal do DTCS; e a construção do novo prédio da biblioteca.

Outra pauta também discutida pelos alunos foi a reformulação do currículo do curso de Agronomia. “Começamos a procurar a grade curricular das faculdades de todo o país. Comparamos com o nosso e discutíamos o que o curso precisava”, relatou com entusiasmo o ex-aluno Fernando.

Ele também contou que houve um período em que se pensava em trazer, para a região, um curso de Licenciatura em Agropecuária, ofertado pelo Centro de Ensino e Tecnologia da Bahia (CETEBA), na cidade de Ilhéus. O problema, segundo Fernando, era a não gratuidade do curso e havia o receio de que o ensino na Famesf fosse privatizado. “Fizemos uma mobilização e pregávamos as seguintes bandeiras: ensino público, gratuito e de qualidade. Após os nossos protestos o curso veio para a região de graça”, explicou aos risos Fernando. 

GREVE ESTUDANTIL - Na década de 1980 os estudantes reivindicavam a construção do prédio da residência estudantil. O ex-aluno da Famesf Hugo Pereira de Jesus militou junto ao D.AL.A. O ex-aluno contou que os estudantes com o apoio do Diretório e realizaram uma greve que durou um mês. O movimento foi considerado pelos estudantes como a primeira greve universitária no interior da Bahia, no período da ditadura militar. Para que o movimento tivesse repercussão, os discentes levaram suas pautas para Secretaria de Educação do Estado.

Ex-aluno Hugo Pereira relembra os momentos e aventuras vividas no DA no período em que foi vice-presidente

“Enfatizamos na capital a questão da qualidade do ensino e a necessidade que a faculdade tinha de melhorias. Voltamos para Juazeiro e começamos a pensar formas de divulgar a greve para ganhar opinião pública. Assim a população da cidade passou a conhecer os problemas que existiam dentro da Famesf”, relatou o ex-aluno.

Dois veículos de comunicação da região foram importantes, segundo Hugo, para a divulgação da greve dos estudantes: a Rádio Juazeiro e a Emissora Rural, da vizinha cidade de Petrolina, Pernambuco. “Recorríamos muito à imprensa. Divulgávamos, nas duas rádios, as nossas reivindicações, os eventos culturais e foi uma das coisas mais interessantes que, mesmo em período de censura, conseguimos fazer”, contou.  

EVENTOS CULTURAIS – Com a ideia de atrair o público juazeirense à Famesf, os estudantes realizavam, no Auditório Principal do Campus III, apresentações teatrais e festivais de música com artistas locais. Chegaram a escrever duas peças inspiradas no teatro de rua de Augusto Boal. Um dos episódios que Hugo considerou marcante foi o show com o cantor de axé Carlos Pita. Ele contou que o cantor e a banda perderam o ônibus em Salvador e para chegar a tempo no show, pegaram um táxi da capital para Juazeiro.  “Foram dez horas de viagem. O auditório estava lotado. Pagamos o taxi de ida e volta, o cachê combinado ao cantor e ainda tivemos um bom lucro. Foi o primeiro grande evento que fizemos”, disse.  

JORNAL TIRIRRICA- Ainda na década de 1980, o D.A.L.A produziu um periódico, vendido a um valor simbólico, que teria em seu conteúdo discussões sobre agricultura alternativa, qualidade do ensino, piadas, cordéis e charges com desenhos feitos pelos próprios discentes. Segundo o ex-aluno Antônio Fernando Dantas a ideia era que jornal se tornasse uma ponte entre os estudantes novatos e veteranos e que estes pudessem conhecer era discutido no DA.

Ao folear as páginas do periódico, Fernando relembrou que o primeiro exemplar do jornal saiu propositalmente sem título. Foi realizado um concurso onde os estudantes da Famesf pudessem escolher o nome do informativo e Tiririca foi o título vencedor dado por um estudante chamado Genaro, cujo sobrenome não foi divulgado. O nome foi comparado a uma planta espontânea que é difícil de ser erradicada e o vencedor recebeu como prêmio a assinatura gratuita do jornal.

As impressões do Tiririca eram realizadas no mimeógrafo da diocese de Juazeiro e circulou na Famesf até a década de 1990.    

DOM JOSÉ RODRIGUES - O bispo da diocese de Juazeiro Dom José Rodrigues teve importância fundamental nos movimentos realizados pelos alunos da Famesf. Nessa mesma década os estudantes realizaram um protesto na cidade a favor da permanência, no país, do presidente da UNE, Javier Alfaya, que corria o risco de ser deportado por possuir nacionalidade espanhola.  Os estudantes participaram da mobilização realizando uma greve de fome junto com alunos secundaristas dos bairros Santo Antônio e Maringá. O protesto foi realizado em frente a catedral da cidade, no período de Corpus Christi e durou 48 horas.   

Marilene Simone Rocha atuou na criação do grupo de agricultura alternativa
AGRICULTURA ALTERNATIVA - Outra bandeira defendida pelo D.A.L.A foi a discussão sobre a agricultura alternativa que levou, segundo a ex-aluna e militante do diretório, Marilene Simões da Rocha, a criação de um grupo que debatia sobre o uso de agrotóxicos e fertilizantes nos alimentos. Os experimentos foram realizados na Famesf e no bairro Country Club, em juazeiro. “A partir desse contato chegamos até o pessoal da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para realizar a análise de solo. E foi assim que depois tivemos a oportunidade de fazer estágio nessa empresa”, relatou.

NOVOS RESIDENTES- Em 1985 a ditadura militar estaria chegando ao final. Na Famesf uma nova turma de alunos passou a circular nos corredores da instituição e o desejo por melhorias continuava. As pautas não divergiam das turmas anteriores: universidade pública e gratuita, melhores condições para as aulas práticas e reforma da residência estudantil.

Os ex-alunos José Welito Mendes dos Santos, conhecido como Zumbi, e Carlos Neiva foram presidente e vice, respectivamente, do D.A.L.A. Durante o curso, os dois alunos foram residentes na Famesf. Zumbi foi eleito presidente no período em que ainda era fera na Universidade. Segundo o ex-aluno, a reforma da residência foi realizada após protestos. “Foi uma luta muito forte para que fosse feita a reforma. Nosso objetivo era ter um ambiente confortável para que o aluno tivesse um bom rendimento em sala de aula”, explicou.

Ex- aluno da Famesf Carlos Neiva relembrou o período de retomada do jornal Tiririca
Para Carlos Neiva, viver nas residências foi um momento de enriquecimento de vida e profissional.  “Nas residências viviam 14 alunos de diferentes cidades, com idades de 18 a 21 anos. Passamos a conviver com a diversidade de pensar de cada um, com o jeito de ser, a individualidade e assumimos responsabilidades. Foi uma experiência importante para a nossa formação”, contou o ex-aluno.


D.A.LA HOJE- Atualmente a diretoria do D.A.L.A é composta por dez alunos do curso de Engenharia Agronômica do DTCS da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). O Departamento abriu espaço para novos cursos e novos Diretórios surgiram. De acordo com o presidente do D.A.L.A, Ary Diógenes Paiva, o Diretório tem como principais propostas atuar junto com os Centros Acadêmicos dos cursos de Direito e Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, além de pensar formas de integração dos feras, discutir reformas no calendário acadêmico e questões relacionadas a recursos para a compra de livros para a biblioteca.

A principal conquista do Centro Acadêmico do Curso de Direito, com o apoio dos demais Diretórios e a direção do DTCS, este ano, foi a assinatura do termo de mobilidade discente na Uneb, onde estudantes das Instituições de Ensino Superior poderão cursar componentes curriculares em qualquer Instituição da região do Vale do São Francisco.

E A LUTA CONTINUA – O embrião de todo o histórico da Famesf surgiu do entusiasmo de estudantes que faziam o terceiro ano em uma escola técnica em Juazeiro, provocados pelos próprios questionamentos de pensar como seriam seus destinos após o término do curso e somado ao apoio de autoridades locais, professores, profissionais da área de agrárias, além da população Juazeirense. Após a reforma das Universidades que ocorreu em 1997, a nomenclatura Famesf mudou para DTCS.

A força estudantil junto com os diferentes diretores que atuaram na Famesf e no DTCS ajudaram a concretizar e mudar o cenário do Departamento. Hoje a Instituição conta com os cursos de Engenharia Agronômica, Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia e Direito;  37 projetos de pesquisa e extensão; 14 laboratórios; novo prédio para residência estudantil; novo prédio onde funciona o curso de Engenharia de Bioprocessos; melhores condições para a prática em campo, mestrado com concentração na área de Horticultura Irrigada e o mestrado em Ecologia Humana com a primeira turma realizada em Juazeiro já no semestre letivo de 2016, além de outras reformas que estão sendo realizadas para o benefício de todo o corpo discente.

E o sonho dos alunos que lutaram e acreditaram nas mudanças, no período da Famesf e no DTCS se tornou realidade. As gerações que passaram por essa Instituição refletem os mesmos desejos e anseios. A satisfação, orgulho e entusiasmo desses alunos, que participaram desses momentos marcantes podem ser percebidos em cada momento em que essas histórias são relatadas.  E a luta continua...

Flickr Memórias da Famesf

Memória Famesf








Você conhece o nosso flickr Memórias da Famesf? Lá você vai conhecer um pouco da história da primeira  Escola de Agronomia da região.Acesse https://www.flickr.com/photos








Festa Famesf


 Convite 


Neste sábado (12), o DTCS da Uneb de Juazeiro estará realizando o 6° encontro de ex-alunos da Famesf e o III Encontro Profissionais do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (CREA- BA). O evento acontecerá no Auditório Antônio Carlos Magalhães, a partir das 8h. Traga a sua caravana de amigos e venha comemorar os 55 anos da Famesf!



Você conhece o nosso flickr Memórias da Famesf? Lá você vai conhecer um pouco da história da primeira  Escola de Agronomia da região. Acesse https://www.flickr.com/photos


Festa Famesf

DTCS da Uneb de Juazeiro (BA) celebra no próximo sábado (12), 55 anos de história da Famesf




Texto: Sheila Feitosa
Núcleo de Assessoria de Comunicação do DTCS/UNEB
                                                                                           ascom.dtcs3@uneb.br


Como parte da programação comemorativa dos 55 anos da Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco, o Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em Juazeiro, estará realizando, no próximo sábado (12), o 6º Encontro de Ex- alunos da Famesf e o III Encontro de Profissionais do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (CREA- BA). O evento acontecerá no Auditório Antônio Carlos Magalhães, a partir das 8h.

A festa comemorativa da Famesf conta com algumas novidades. Este ano serão homenageados os alunos da primeira turma do curso de Agronomia, que completará 50 anos de formados; o Diretório Acadêmico Livre (D.A.L.A) que comemora 52 anos de história l, na Famesf e no DTCS; e o Bororó, primeiro ônibus da Instituição, adquirido em 1965.

Também será realizada a apresentação musical da banda Blues Angel’s, criada na década de 1960 por seis egressos da Escola de Agronomia e o lançamento  do livro Novos Baianos: a história do grupo que mudou a MPB, do ex-aluno Luiz Dias Galvão.


HISTÓRICO: Fundada por estudantes em 1960, a Famesf surgiu da necessidade de implantar no Vale do São Francisco um curso de nível superior que atendesse a demanda agrícola da região. O ex-aluno Bartolomeu Venâncio de Souza contou que a Escola de Agronomia surgiu do entusiasmo de estudantes que faziam o terceiro ano  em uma escola técnica na cidade e se questionavam como seriam seus destinos após o término do curso e contou também com o apoio de autoridades locais, professores, profissionais ligados a área de agrárias, além da população de Juazeiro.

As primeiras aulas começaram no Clube de Artífices Juazeirenses, local onde hoje funciona a Escola Edson Ribeiro. Em 1962 a escola foi incorporada a Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco (FAMESF). Ainda na década de 1960 a faculdade passou a funcionar nas instalações do antigo Horto Florestal, local onde hoje funciona o Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS).
Na década de 1980 a Faculdade foi incorporada à Superintendência Estadual de Ensino Superior (SESEB). Alguns anos depois, passou a fazer parte da Universidade do Estado da Bahia. A nomenclatura Famesf foi alterada passando a ser DTCS, no final dos anos de 1990.

Programação:

8h- Abertura (DTCS);
8h20- Palestra do Sistema CONFEA/CREA;
9h-  Palestra sobre o Diretório Acadêmico de Agronomia;
9h30 – Homenagem aos primeiros agrônomos da Famesf- Turma de 1965 e lançamento do livro Novos Baianos: a história do grupo que mudou a MPB, do ex-aluno Luiz Dias Galvão;
12h30- Almoço de confraternização e Show musical com a banda Blue Angel’s, com participação do cantor e compositor Gustavo Tiné;
18h – Encerramento;










quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Convite



Memória Famesf

Transportando Belos Sonhos

As histórias e aventuras vividas no primeiro ônibus da Famesf que permanecem vivas na memória dos ex- alunos da instituição

Ônibus da Universidade adquirido em 1965 pela Famesf para transportar alunos,
professores e funcionários que residiam em Petrolina- Pe e Juazeiro –Ba


Texto: Sheila Feitosa
Fotos: Sheila Feitosa, Edna Lúcia Oliveira e arquivo DTCS
Núcleo de Assessoria de Comunicação do DTCS/UNEB



Lutar por seus ideais em um período de censura e repressão militar foi o maior desafio de muitos alunos que estudavam na Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco (FAMESF), na década de 1960. O país vivia a tensão da ditadura militar, fase crítica da política brasileira, caracterizada pelo autoritarismo, perseguição e repressão a quem era contrário aos ideais impostos pelo regime.

Enquanto isso, em uma manhã de outubro de 1965, na cidade de Juazeiro, interior do Sertão baiano, a primeira turma de alunos da Famesf saia do Brasil com destino à cidade de Montevidéu, no Uruguai. A viagem cedida pela Universidade aos estudantes da primeira turma do curso de Agronomia do Vale do São Francisco foi realizada no primeiro ônibus da Instituição, batizado na época, como Belo Antônio.

Na capital uruguaia os alunos pretendiam visitar dois exilados políticos: Leonel Brizola e João Goulart, mas foram impedidos devido ao risco de ficarem presos no país. O próximo destino do ônibus Belo Antônio seria Buenos Aires, na Argentina, e depois retornariam ao Brasil, viagem essa que durou um mês. As histórias e aventuras vividas no primeiro ônibus da Faculdade de Agronomia permanecem na memória dos ex- alunos que recordam com carinho cada momento.
O ex-aluno da Famesf Moacyr Mesquita Lopes relembra
a viagem que fez no Belo Antônio para Montevidéu, no Uruguai

O ônibus Mercedes Bens, modelo 66, foi adquirido pela instituição em 1965, por meio de recursos doados pela comunidade, para transportar alunos, professores e funcionários que residiam em Petrolina, Pernambuco, e Juazeiro, até à Famesf, em um período de desenvolvimento das duas cidades sertanejas. No mesmo ano da aquisição, os estudantes deram ao transporte o nome Belo Antônio baseado em um filme ítalo-francês da década de 1960 de Vitaliano Brancati.

O apelido surgiu em uma viagem realizada pelos estudantes à cidade do Rio de Janeiro. O ex-aluno da primeira turma da Famesf, Moacir Mesquita Lopes lembra que apesar de ser novo, o ônibus não conseguiu subir ao Morro do Corcovado. “O ônibus era o último modelo, muito bonito na época, mas não era tão resistente e de porte. Por isso que o apelidamos de Belo Antônio, inspirado na expressão ‘é bonito, mas não é de nada’ ”, explicou.

Transportando sonhos...

Logo cedinho, o Belo Antônio saia de Juazeiro e atravessava a ponte sobre as águas do rio São Francisco, em direção ao primeiro destino, à cidade de Petrolina. Por lá, pegava os primeiros alunos e funcionários na Praça Dom Malan e depois retornava à Juazeiro. “Era uma bagunça muito grande dentro desse ônibus. Essa época foi maravilhosa. A minha turma era formada por 24 alunos e nos considerávamos como uma família”, relembra a ex-aluna da Famesf e primeira mulher a fazer o curso de Agronomia na região, Hylânia Duarte.

A primeira mulher a fazer o curso de Agronomia da Famesf,
Hylânia Duarte. Ela relembra que viajou no Belo Antônio para realizar aulas práticas no campo. 

Para ela, a aquisição do Belo Antônio foi muito importante, pois ele levava os estudantes para as aulas de campo em outras cidades. “Antes da chegada do ônibus, não tínhamos como ter determinadas atividades práticas. Na disciplina de Tecnologia de Alimentos viajávamos para a cidade de Arco Verde em carros emprestados pela comunidade. Com a chegada do Belo Antônio pudemos participar das aulas práticas com mais tranquilidade”, ressaltou.

 “... Calú, Calú, quer vender o vaporzinho”?

Uma das paradas obrigatórias do ônibus era o caís de Juazeiro, em frente ao local onde ficava o Vaporzinho. Próximo ao local havia um sobrado onde morava Dona Calú, uma senhora que, segundo conta alguns ex- alunos, era muito ranzinza e não gostava dos estudantes da Famesf. Todos os dias, os alunos passavam na orla e cantavam:

“ Calú, Calú, quantos pregos você tem? Calú, Calu, quer vender o vaporzinho?”

A ex-aluna da turma de 1974, Maria Mazarello Gomes Ramires
 lembra com carinho as aventuras vividas no ônibus da Famesf

“Ela odiava o ônibus da Agronomia. Um dia Dona Calú esperou o Belo Antônio passar, encheu um caldeirão de água fervente e jogou em cima do ônibus. Ainda bem que fechamos a janela”, relembra com risos a ex-aluna da Famesf da turma de 1974, Maria Mazarello Gomes Ramires.

O grande amigo Léo

Na memória dos ex-alunos da Faculdade de Agronomia ainda permanece a imagem de Léo, o primeiro motorista do Belo Antônio. A cada ponto de chegada ou partida do ônibus, o motorista moreno, meio calvo, gordinho, com barba sempre aparada, contagiava a todos com sua alegria. “O Léo era como um pai pra gente. Um parceiro que sempre nos acompanhava. Excelente motorista. Ele tinha muito cuidado com os alunos. Sinto saudades dele e daquela época”, conta a ex-aluna Maria Mazarello.


“...O Bororó da agronomia é o maior!”

O ônibus da Famesf realizou várias viagens pelo país. Percorreu todo o Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil levando alunos para visitas técnicas, aulas práticas e  jogos universitários. Na década de 1970, uma nova geração de alunos passou a circular os corredores do transporte e deram a ele outro apelido, Bororó. Quem transportava os alunos nas viagens técnicas era o bem humorado João Pereira Santos.  “Com o Seu João, tínhamos uma relação quase familiar”, recorda o professor da Uneb e ex-aluno José Osmã Teles. 
A ex-aluna da Famesf e professora da Uneb Maria de Fátima Pontes 
ainda guarda na memória o hino do Bororó. 
A professora da Uneb Maria de Fátima Pontes foi aluna da Famesf e passageira do Bororó. “No ano de 1978, fizemos uma viagem para uma fazenda próximo ao município de Curaçá, que fica à 192km de Juazeiro. A turma cantava, ria e com muita alegria entoavam o hino do ônibus: “O Bororó, êh!O Bororó, êh! O Bororó da Agronomia é o maior”, lembra a professora.

O olhar da saudade

As emoções vividas no Bororó permanecem vivas na memória do motorista Luís Carlos Barros Mendes que em 1979 assumiu a direção do veículo. Ele lembra com precisão a primeira viagem que realizou a cidade de Curitiba no Paraná. Nesse mesmo encontro ganhou dos alunos o apelido de Cabeção. “Cinco horas da manhã e já estávamos na Praça Dom Malan. Em um determinado momento os alunos chamaram: ‘Cabeção’; E eu olhei. Só que eles estavam chamando um estudante de Itabuna”, relatou.
O êx- motorista do Bororó Luís Carlos Barros Mendes revela
 o carinho e a saudade que sente da época 
em que viajava no Bororó.

O olhar distante do motorista ao relembrar as aventuras do Bororó revela o carinho e a saudade que o funcionário tem da época em que viajava no ônibus. Todos os anos, alunos e professores participavam dos Jogos do Interior e dos Jogos Universitários.  O último aconteceu em João Pessoa, na Paraíba, em 1985. O fiel companheiro das turmas de Agronomia também se aventurava com os estudantes durante as competições. “Uma vez em Mossoró, no Rio Grande do Norte, o time adversário estava perdendo de dois a zero e o juiz marcou dois pênaltis a favor do time. Eu tomei a placa e o apito do arbitro e eles deram a vitória aos estudantes Famesf”, conta Luís aos risos.
Foto tirada em 31 de março de 1977 durante uma viagem
 realizada por alunos da Famesf para a cidade de
Curitiba, no Paraná para participarem das Agronomídades. 
 

O professor da Uneb e ex-aluno da Famesf, José Humberto Félix também participou das Agronomíades, jogos universitários realizados por estudantes dos cursos de Agronomia de todo o país. Ele guarda boas lembranças e fatos engraçados das viagens realizadas no Bororó. Uma deles aconteceu no ano de 1979 em uma viagem para a cidade de Goiânia, em Goiás. “Na capital nós íamos disputar uma partida final e quando estávamos próximo ao ginásio, um colega chamado Gilson Ataíde foi atropelado por um fusca. O capô do carro ficou destruído. Ele levantou, sacudiu a poeira, como se nada tivesse acontecido e ainda reclamou com o motorista por não ter enxergado ele”, relatou aos risos o ex-aluno.


Meio século de história

Preservado há 49 anos no prédio da Instituição como patrimônio da antiga Famesf, atual Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS), o ônibus ainda atrai olhares curiosos dos novos alunos do curso de Engenharia Agronômica da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). A última reforma foi realizada em 1994 em parceria com a empresa Joalina Transportes LTDA, durante a gestão da professora Isabel de Araújo Santana.

O veículo parou de circular em 2002 e é utilizado pela instituição durante o encontro de ex-alunos da Famesf, que acontece todos os anos, no segundo sábado do mês de dezembro, onde é montada dentro do transporte uma exposição com fotos antigas dos estudantes da Faculdade de Agronomia.

De acordo com alguns egressos da Famesf, quem viveu a fase de ouro do Belo Antônio não chegou a conhecer o novo apelido Bororó, que foi adquirido após a saída das primeiras turmas de Agronomia da instituição. Devido a isso, alguns deles criaram resistência ao apelido atual. Para os ex-alunos da Famesf Belo Antônio ou Bororó continua sendo o nome de guerra de um ônibus que, todos os dias, transportava belos sonhos entre duas cidades vizinhas.